quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Imperfeições

“Havia na Índia um carregador de água que transportava - em ambas as pontas de uma vara que levava atravessada no pescoço - dois potes grandes de barro. Um dos potes tinha uma racha e o outro era perfeito.

O pote perfeito chegava sempre cheio ao final do longo caminho que ia do poço até à casa do patrão. Mas o pote rachado chegava apenas com metade da água. E assim, durante dois anos, o carregador entregou diariamente um pote e meio de água em casa do seu senhor.

O pote perfeito, é claro, estava orgulhoso do seu trabalho. O pote rachado, porém, estava envergonhado da sua imperfeição. Sentia-se miserável por apenas ser capaz de realizar metade da tarefa a que estava destinado. Depois de perceber que, ao longo de dois anos, não tinha passado de uma amarga desilusão, o pote disse um dia ao homem, à beira do poço:

- Estou envergonhado e quero pedir-te desculpa. Durante estes dois anos só entreguei metade da minha carga, porque a minha racha faz com que a água se vá derramando ao longo do caminho. Por causa do meu defeito, tu fazes o teu trabalho e não ganhas todo o salário que os teus esforços mereciam.

O homem ficou triste com a tristeza do velho pote, e disse-lhe com compaixão:

- Quando voltarmos para casa do meu senhor, quero que repares nas flores que se encontram à beira do caminho.

De facto, à medida que iam subindo a montanha, o pote rachado reparou em que havia muitas flores selvagens à beira do caminho e ficou mais animado. Mas no final do percurso, tendo-se vazado mais uma vez metade da água, o pote sentiu-se mal de novo e voltou a pedir desculpa ao homem pela sua falha.

Então, o homem disse ao pote:

- Reparaste em que, ao longo do caminho, só havia flores de teu lado? Reparaste também em que, quando vínhamos do poço, todos os dias, tu ias regando essas flores? Ao longo de dois anos, eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Se tu não fosses assim como és, ele não poderia ter essa beleza para dar graça à sua casa.

(Autor desconhecido)”


Muitas vezes perdemos demasiado tempo preocupando-nos com as nossas imperfeições, que não reparamos nas pequenas coisas que acontecem ao nosso redor.

6 comentários:

Fénix disse...

Quem me dera ser um pote rachado e fazer crescer flores.

Quem me dera que as minhas fendas só dessem alegrias ou sorrisos e não reparos constantes.

Anónimo disse...

Que magnífica história!
Todos temoso nosso lugar neste mundo, mesmo que nos achemos uns inadaptados.

Anónimo disse...

Adorei...

É fantástico. A maior parte das vezes não reparamos que um simples gesto, um simples sorriso pode fazer muita coisa.

Gonçalo Tavares de Almeida disse...

Cada um tem a sua função no mundo, seja ela boa ou má, grande ou pequena...

Fernanda disse...

O texto nos remete ao quanto as imperfeições são vitais à construção de nossa identidade, juntamente com as qualidades, claro!
Boa escolha!

redonda disse...

Gostei muito da história.